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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Federação, clubes e a selecção precoce

A política federativa tem gerado bastante contestação (uma contestação passiva, diga-se) em Portugal nestes últimos anos. Eu perfilo-me nos críticos. Não posso corroborar com uma federação que não tem tratado os seus clubes da mesma forma, que não assume compromissos financeiros (uma vergonha a questão da remuneração dos árbitros, a federação que tem por hábito castigar alguns clubes incumpridores), que sobrecarrega financeiramente os clubes e que tem levado a cabo um conjunto de medidas técnicas e organizativas desastrosas para o sector da formação (o novo regulamento da equipas “B” e primeira divisão nacional única em juvenis no próximo ano, são alguns dos exemplos).

Mas desengane-se quem fica somente pela federação na hora da crítica. Esta federação é também o reflexo das lideranças existentes nos clubes, que por sua vez – podíamos continuar infinitamente – são reflexo duma cultura instalada. Ganhar rápido, ganhar mesmo que isso signifique hipotecar o futuro, ganhar sem ética se necessário. Este é o modus operandi desportivo em Portugal.

Os clubes são responsáveis pelo estado das coisas e muito pouco se tem dito sobre isso. Ora pela sua passividade, ora pela sua conivência e incompetência. O que digo é tão verdade que perante o aumento dos encargos financeiros exigidos pela federação no final da época passada, não tão só os clubes não se souberam unir para reivindicar os seus direitos como nem sequer foram capazes de rever o seu projecto desportivo e migrar para as competições regionais.

Na formação, constatámos o exemplo perfeito do mea culpa entre clubes (excluo a referência directa às associações por serem os representantes dos clubes) e federação, e das suas mais elementares más práticas. A federação porque não “legisla” (regulamentos técnicos), os clubes porque não se auto-disciplinam. A selecção de talentos nos clubes em Portugal tem-se feito precocemente e baseada em princípios imediatistas. É prática vulgar observarmos nos escalões de formação de base a utilização parcial dos atletas convocados ao jogo. Isto quer dizer que os treinadores não têm em conta os diferentes ritmos de desenvolvimento de cada atleta e começam a escolher/excluir os atletas demasiado cedo, em função de objectivos de curto prazo. Por arrasto, os treinadores e clubes que seguem esta lógica não promovem também como deveriam o recrutamento de novos atletas para a modalidade.

Penso que uma equação matemática complexa não nos elucidará a quantidade de atletas que desistem da modalidade prematuramente e que teriam potencialidades para serem jogadores de alto nível. Não é espanto nenhum verificar que nas primeiras divisões de juvenis e juniores, as equipas apresentem médias de altura tão baixas na meia-distância e que são muito poucas as que têm esquerdinos nos dois postos destinados.

Não compreendo como um problema desta envergadura tem passado despercebido ao responsável pelas selecções nacionais jovens, aos responsáveis técnicos das associações e aos coordenadores e treinadores dos clubes. Embora não seja o meu domínio, tenho ideia que existe nos escritos académicos unanimidade sobre o assunto, nos próprios cursos de treinadores ministrados pela federação/Formand onde estive presente, é veiculada a ideia dos princípios pedagógicos, da necessidade de promover o desenvolvimento integral do atleta e que a selecção precoce é um método incorrecto.

Para reverter este problema, é urgente a instituição por parte da federação e das associações, tal como era prática à dez anos atrás, de um regulamento técnico-pedagógico adaptado às características de cada escalão de base que obrigue a utilização de todos os atletas inscritos ao jogo e que incentive, isso penso que já é feito, a que os clubes inscrevam no boletim de jogo o máximo de jogadores permitidos. É preciso mudar os regulamentos actuais das equipas “B” que não permitem uma gestão do número de atletas competente (esta temática daria uma interessante crónica) e a natureza das competições deveria ser mudada: integrar competições mais informais (torneios, taças, pequenos campeonatos) na primeira metade da época, deixando as competições mais formais (campeonato nacional) para o resto da época.

Quanto aos clubes, é fundamental que os dirigentes avaliem os seus treinadores não com base nos resultados desportivos mas na forma como os treinadores alcançam esses resultados desportivos, ainda que seja o último lugar na segunda divisão nacional. A formação é um trabalho de paciência. Um atleta antes de chegar a sénior cumpre em média 8 épocas de formação. São necessários projectos desportivos a longo prazo e não de curto prazo. Que sentido faz ganhar um campeonato nacional de infantis se depois nenhum desses atletas chega a sénior de alto-nível?

Espero que os leitores entendam a minha crítica. Evidentemente que nem tudo no andebol é mau. O meu objectivo não é criticar gratuitamente. Critico porque quero um andebol melhor, um andebol com clubes na liga dos campeões, uma selecção capaz de ganhar a qualquer outra selecção e, sobretudo, a minha crítica baseia-se no balanço entre o que somos e aquilo que teríamos possibilidade de ser. A grande questão do andebol reside nesta premissa.

Renato Miranda

16 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns, Renato Miranda. Pelo desassombro da sua análise (subscrevendo quase na íntegra o seu pensamento), pelo "serviço público" prestado (falando de Andebol e dos seus problemas - reflectindo sobre ele, concordando-se ou não), pelo "tom" como o fez (de uma forma convicta, mas cordata). A ler e a reflectir.
Andebol Apreensivo.

Jorge Almeida disse...

Renato Miranda,

parabéns pela análise, e ainda mais pelo facto de vir a público assumir a sua opinião.

Anónimo disse...

Gostei sinceramente de ler este artigo porque toca em muitos aspectos reais e sem solução com este estado de situação. Vou referir-me a duas das muitas situações referidas.
1ª Detecção de talentos- uma mentira pegada cujo único critério de escolha se faz por importãncia de clube/associação. (já assisti ao vivo a contactos dessa natureza)Então podemos ter atletas infantis/iniciados com altura superior a 1,90 com elevada capacidade técnica para o momento que isso nada diz aos seleccionadores que nem sequer sabem que ele existe .Sabem porquê? Porque os seus técnicos não são do circulo deles mesmos e portanto não são observados.
O ano passado assisti a um caso flagrante pois nem numa fase final apareceu alguém para ver os miúdos ,servem-se de informações via porta lateral de responsáveis de outros clubes ,muitas das vezes rivais que devido a deformação dão opiniões negativas para mais tarde os tentarem levar para esses clubes. Ouvi dizer noutro dia um grande responsável técnico da FAP dizer que não indicam CLUBES aos jogadores e vice-versa. Mentiu com todos os dentes e já o fizeram dezenas de vezes até ao desplante de um dos responsável de Resende ameaçar um miúdo porque não queria jogar onde ele achava que o devia fazer. Um dia se saberá tudo isto
O outro assunto que quero mencionar é a qualidade dos dirigentes,com curso, sem curso é de facto muito má. Não permitem aos seus técnicos o desenvolvimento de trabalho capaz de formar jogadores para as suas equipas seniores.Dão prioridade de custos a outras equipas servindo-se apenas da formação para cumprir os regulamentos.
Pensem nisto...

Anónimo disse...

Bem observado, Renato.

João Rola disse...

De facto eu já aqui opinei, por mais de uma vez, que nas actuais circunstâncias para os jovens atletas é bem melhor ficarem fora das seleções,talvez apenas com excepção de algumas regionais.
A política de detecção de talentos é um embuste total e apenas serve para justificar vaidades e encher a barriga a alguns quadros, supostamente técnicos, da FPA.
Fica o desafio de o Banhadas abrir à discução o tão falado centro de alto rendimento de Resende porque então todos ficaremos a perceber até onde cresce o umbigo de alguns dirigentes

Jorge Almeida disse...

Fora de tópico:

Não é que a APAOMA, respondendo ao convite formulado pela FAP para indicar árbitros para os prémios da Gala do Andebol, indicou nomes de árbitros diferentes dos que foram premiados?

http://www.apaoma.pt/index.php?view=article&catid=44:noticias&id=157:gala-do-andebol&format=pdf

Só visto ...

Anónimo disse...

Parabéns Renato Miranda pela excelente reflexão. Todos irão concordar mas depois na pratica todos querem é ser campeões nacionais de infantis...

Anónimo disse...

Caro Jorge Almeida
Deveria a APAOMA indicar no comunicado quais os árbitros que indicou.
Não o fez. Esteve mal. Porque assim só se constata a existência de um desacordo - o que já é negativo - mas melhor seria que a APAOMA nos dissesse onde reside a diferença de opiniões.
Nomes preto no branco. Mas aí, a APAOMA pretende apenas dizer que a FAP (direcção) não concordou.
Sabendo quais os propostos pela FAP ficamos sem saber quais os que na perspectiva da organização representativa dos árbitros mereceriam estar no pódium.
Quer a APAOMA dizer que discorda, que a FAP não considerou a sua sugestão e não indica quem, na sua opinião merecia lá estar? Acha a APAOMA que será esse o melhor caminho?

Entendam-se, digam de sua justiça, mas com clareza.
Como dizia o outro "sem medos".

Anónimo disse...

Concordo com o Renato Miranda em muitas coisas e também quando ele diz que nem tudo é mau.Gostava de me debroçar sobre este artigo, mas vou esperar pelo seguinte, pois penso que o próximo artigo do Renato Miranda vai versar exactamente tudo o que é bom, certo? Fico à espera.

Anónimo disse...

SSr. Jorge Almeida: se nos nomeados para a Gala de andebol não estavam os internacionais, quem é que a APAOMA escolheu como melhor dupla de árbitros? Deve ter sido Trinca e companhia!

Anónimo disse...

Excelente comentário do Renato Miranda sobre o andebol português...
mas deixo um pergunta.
O que leva uma pessoa ou grupo de pessoas estarem há frente do andebol nos últimos 30 anos!.... e não conseguem acertar num Modelo de diálogo, um Modelo de competição e quais os objectivos, uma Modelo de representação da Selecção Nacional..

É tempo a mais para mostrar erros e mais erros e resultados na modalidade no seu crescimento nada, tudo é profissional na Federação e principais Associações Regionais mas cada vez se vê mais amadorismo, mais abandonos por desinteresse em continuar na mediocridade... e vai continuar nos próximos anos!

Quando paramos para pensar e decidimos próximas metas em EQUIPA..
Quando temos a possibilidade de frequentar outros locais onde o andebol é muito bem tratado e protegido como foi em Madrid na disputa da Super Copa entre o Barcelona e Atlético de Madrid(um regresso que tem muita importância para o balonmano de Espanha. 12000 espectadores uma verdadeira explosão da força do andebol em Espanha, junto vídeo deste acontecimento para entenderem que não me identifico com a mediocridade reinante do Poder no nosso país e a grandeza do andebol noutros países forte, coeso e motivante..

http://www.youtube.com/watch?v=jHDh9hgr7WI&feature=related
Continuo a acreditar no Andebol português ms não acredito nos dirigentes por mais que queira nao acertam, não têm qualidade de liderança para nos levar par outros patamares de vida desportiva.O que eles fazem nem os familiares gostam! e também eles abandonam a modalidade.

Anónimo disse...

Este artigo simplesmente mostra uma coisa, de como são as pessoas que aqui comentam, coisas sem imoportancia nenhuma tem dezenas de comentarios, um que toca na ferida e aponta situações reais e problemas da modalidade, quase ninguem comenta.

gupi disse...

Quem é que ganhou e quem é que terão indicado?

Anónimo disse...

Se olharmos para as convocatóris das selecções, logo se percebe como tudo é negociado! Emquanto houver treinos onde o selecionador já chega com a equipa feita e, afasta outros...

Anónimo disse...

É com enorme saudade que te escrevo, decidi fazê-lo porque continuo a sentir uma enorme gratidão por tudo aquilo que me deste tanto a nível desportivo como pessoal. Tudo o que me transmitiste eu recordo cada vez que entro em campo, serás sempre uma referência para mim. Não me vou alongar muito mais, nao considero isto uma despedida mas sim um agradecimento pelos momentos memoráveis que me proporcionaste. Aproveito para te desejar as maiores felicidades e espero encontrar-te em breve.
O teu ex-atleta: Edgar Cruz

Renato Miranda disse...

Obrigado Edgar. Fico contente por ter contribuído de alguma forma. Aquela equipa foi especial, penso, para todos nós que a vivemos de dentro. A melhor forma de me agradeceres é continuares a trabalhar no limite das tuas capacidades para alcançares os patamares que sempre tive em mente para ti. Um grande abraço e até muito breve.