Dando continuidade a analise publicada na semana anterior, hoje efectua-se nova publicação. Será de todo o interesse referir, que estes textos reflectem a opinião dos autores, e pretendem ser efectuadas com um princípio de equidade, sem pretender de qualquer forma defender, atacar ou promover qualquer clube ou atleta.
MADEIRA SAD
Dizer que o Madeira SAD é a surpresa do campeonato seria injusto para com uma equipa que vem paulatinamente e de forma segura e sustentada dando passos em frente no panorama nacional. A classificação da época passada poderá constituir um feito, mas cremos que não há 2 surpresas consecutivas por parte da mesma equipa e para a corrente época já deixávamos em aberto a hipótese de o clube realizar mais uma campanha segura.
Paulo Fidalgo tem um discurso humilde, falando várias vezes das limitações da sua equipa, tanto a nível orçamental como de experiencia dos seus atletas – este último argumento não parece muito fundamentado visto que a equipa é composta por bastantes atletas de larga experiencia na 1ªDivisão casos de José Coelho, Gustavo Castro, Telmo Ferreira, Luís Carvalho, Gonçalo Vieira, Mário Costa, Albano Lopes etc. - o que o técnico não quererá dizer é que não são os melhores, mas é inegável que apresentam um rendimento assinalável. Paulo Fidalgo tem ainda sabido ao longo dos anos moldar o plantel, colmatando as saídas de jogadores como Kostetsky ou Verkic com José Coelho e Telmo Ferreira e atraindo jovens de valor como Nuno Silva ou João Ferraz. Paralelamente o estilo de jogo da equipa também evolui, sendo visíveis processos ofensivos simples, que deixam alguma liberdade aos atletas – ao contrário do jogo do ABC -, um sistema defensivo mais móvel e agressivo que o 5:1 herdado de Donner e José António Silva, ao qual acrescentou um sistema 3:2:1 bastante profundo (que criou já dificuldades aos grandes) bem como uma ambiciosa velocidade nas transições.
Estamos curiosos por ver que alterações estão planeadas para a próxima época. O Madeira SAD parece ter encontrado o equilíbrio na baliza com 2 guarda-redes maduros e que se complementam, conta á vários anos com Gonçalo Vieira - um dos melhores pontas esquerdas do campeonato - Daniel Santos e um Mauro Aveiro em afirmação (nota para a confiança depositada pelo treinador mesmo em jogos decisivos) parecem formar uma dupla válida para a ponta direita, José Coelho está de saída mas ver-se-á o que fará Bosko, João Ferraz caso se mantenha afastado de lesões tem potencial para ser a curto prazo o melhor lateral direito português. Estamos curiosos para ver de que forma os dirigentes madeirenses vão moldar o próximo plantel, contudo parecem-nos existir duas alternativas: uma hipótese será optar pela continuidade da maioria dos atletas esperando que com mais tempo de jogo e entrosamento as coisas vão progressivamente melhorando. A outra hipótese será manter a “espinha dorsal” e substituir alguns elementos menos utilizados por alternativas mais válidas e com maior potencial, o posto pivot por exemplo parece-nos necessitar de um atleta com outras capacidades. Tendo em conta os últimos anos diríamos que Paulo Fidalgo terá um plantel com 2 ou 3 ajustes, resta-nos esperar para ver o “calibre” das entradas e que problemas possam levantar algumas saídas.
Balanço: No campeonato o Madeira SAD teve um desempenho notável. Foi dos adversários mais problemáticos para todas as equipas, principalmente para os 3 grandes. Na Supertaça, num grupo sem os grandes podia ter chegado à final. Estando ainda em competição na Taça e com boas perspectivas de atingir a final é de crer que a época só possa ser considerada um sucesso.
ABC
O ABC partia para o campeonato com a missão a que já se tem habituado: fazer bem cada vez com menos. Contudo, como também já vem sendo hábito, invariavelmente o ABC acaba por fazer campanhas discretas mas seguras que lhe permitem atingir os objectivos com alguma tranquilidade. O 2º lugar na fase regular foi surpreendentemente positivo, superando as expectativas de quase todos, mostrando que apesar a contestação de alguns adeptos Jorge Rito sabe o que faz. Apesar de pensarmos que o técnico está muitas vezes certo nas escolhas e estratégias que toma para os jogos, não podemos defender o estilo de jogo deste ABC. Transições rápidas raramente se vêm, o sistema defensivo está limitado ao 5:1, que embora sólido, tem como única alternativa o 6:0 com Álvaro Rodrigues no papel de defensor central juntamente com…. Carlos Matos! No plano ofensivo, os atletas estão presos a combinações muito fechadas que não dão liberdade criativa aos jogadores, com a agravante de algumas se terem já tornado bastante conhecidas entre adversários. Para mais, este estilo de jogo lento e demasiado cerebral torna os jogos televisionados em verdadeiros “velórios” que em nada beneficiam a imagem do Andebol.
Pedem-se mais jovens a jogar regularmente mas o certo é que o técnico demonstrou ao longo dos anos saber potenciar os talentos de forma paciente mas segura. Tiago Pereira é actualmente o maior exemplo deste processo, mas outros como Hugo Rosário, Miguel Sarmento ou Nuno Rebelo poderão no futuro afirmar-se. Para já, dê-se-lhes tempo para crescer nos jogos mais acessíveis e coloque-se a responsabilidade em Bogas, Matos, Álvaro etc. Sobre este assunto acrescentamos ainda que, a nosso ver, o único jovem que mereceria mais oportunidades seria o guarda-redes Bruno Dias. Apontado como grande esperança quando júnior – e com prestações á altura a nível nacional e nas selecções jovens – está demasiadas vezes na sombra de Humberto, que por sua vez está demasiadas vezes aquém do que dele se espera.
Menos positiva foi claramente a prestação na fase final - 1 vitória nas 7 primeiras jornadas não era de todo expectável, mas a inconstância de Sporting e Benfica permite aos bracarenses terminar o campeonato em 5º. Não foi um brilharete, mas tendo em conta os condicionalismos que se têm vindo a agravar é natural que vá ser no futuro a melhor perspectiva do ABC: luta pelo 4º e 5º lugar.
A próximo época será fundamental para o clube. Se houver mais um ano de desinvestimento o ABC tornar-se-á a prazo um clube indesejável até para os jovens que forma e que costumavam ter grande ligação á casa. Se pelo contrário existir um sinal de um projecto de futuro – coisa que de momento claramente não existe – com ambição e com alguns retoques cirúrgicos em posições como lateral direito ou lateral esquerdo o ABC pode voltar ser um projecto atractivo. Na escolha entre qual destes rumos o clube tomará serão decisivas as renovações de alguns jovens influentes como Tiago Pereira, o que, até ver não se afigura fácil. A possível entrada de José Coelho poderá ser um sinal positivo, ainda que não seja um atleta jovem.
Balanço: Não sendo um fracasso a época realizada pelo ABC não foi de forma alguma brilhante. Cumpriu os mínimos no campeonato, passou de forma discreta pela Taça de Portugal (eliminado pelo Madeira SAD) e na Supertaça foi pouco mais que corpo presente - 54 golos marcados em 3 jogos. A passagem (fugaz) na EHF não teve nada de relevante mas sabe-se de antemão que é difícil para a maioria das equipas portuguesas passarem mais que 2 eliminatórias nesta competição.
Grupo de Analistas